Nosso Amigo Marabô

Dia 09 de junho de 20110 confesso que estava um tanto quanto ansioso e preocupado, pois trabalho com o amigo Marabô há vários anos e não sabia o que este iria falar.
Eram 20:00 horas quando iniciamos a conversa. Eu havia preparado farto material de pesquisa para apreciação e explicações do assunto e comecei lendo uma prece de Exú que traz muito conteúdo e excelentes explicações pertinentes a estes guerreiros da Umbanda. Tão logo terminei a prece, já senti que Marabô esta ao meu lado e desejava falar. Dirigi-me então ao Gonga para recebê-lo com a devida autorização do pai maior.
Meu protetor assumiu o controle.
Nosso amado guardião pegou seu chapéu, sua vestimenta, uma tábua de pontos, caixa de pembas, saudou e sentou-se com a tábua em seu colo, fazendo nesta um círculo. Perguntou se todos já haviam visto Deus Pai, se sabiam quem era ele? A resposta que obteve para este questionamento foi: Ninguém viu Deus, mas sabiam de sua existência e alguns o sentiam em seus corações. Marabô disse que também jamais viu Deus, todavia trazia-o consigo, pois tinha a verdadeira fé e crença em sua existência e que o círculo desenhado era uma ótima representação “dele”, pois um círculo não tem início e nem fim, é um todo universal e se vivencia tanto interna como externamente, além de que não é preciso ver Deus, pois a maior fé está envolta nos que acreditam sem precisar ver ou tocar.
Suas palavras simples demonstravam profunda sabedoria.
Desenhou então uma estrela de seis pontas dentro do círculo e dissertou o seguinte: - No ápice desta estrela encontraremos o Reino de Oxalá, primeiro filho gerado por Deus e que tem como escopo maior difundir a existência de um Deus Pai que tudo governa. Para que este objetivo se verifique é necessária a Fé Maior que só o grande Orixá Oxalá consegue irradiar. Como a estrela é desenhada com um triangulo voltado para cima e outro para baixo,podemos observar que em todas as extremidades forma-se o desenho de outro triangulo, dentro deste pequeno triangulo superior, “ele” desenhou uma cruz (símbolo máximo de Oxalá). Em seguida com uma pemba azul desenhou ondas e disse que aquele desenho representava a segunda criação de Deus, uma fonte geradora cujo Orixá Maior era Yemajá, a mãe de todos e fonte necessária para dar continuidade nas Criações de Deus Pai. Na outra extremidade superior esquerda, desenhou um coração e explicou que ali estava o Orixá Maior Oxum encarregado de difundir o amor maior do Pai. Mas Deus necessitava criar algo que pudesse ensinar e transmitir conhecimentos criando então o Orixá Maior Oxóssi que ficou representado na extremidade inferior direita da estrela com o desenho de uma flecha verde. Tinha então a Fé, a geração, o amor, o conhecimento, mas faltava ainda algo que lançasse as Leis Maiores e toda a criação e Deus fez então o orixá da Lei, Ogum, encarregado de fazer cumprir as Leis Divinas. Todavia, faltava ainda criar a Justiça para que a fé, geração, amor, conhecimento e leis tivessem todo embasamento justo e correto no transcorrer de toda a formação e no último vértice da estrela desenho um machado marrom, dizendo que esta era e sexta criação – Xangô, Orixá Maior da Justiça Divina. Então, no centro da estrela “ele” desenhou uma escadaria com uma cruz ao alto e disse que ali se encontrava a sétima grande criação – Obaluaiê, pai da evolução criacionista, grande Orixá divino encarregado desta missão, pois a verdadeira evolução só se dá quando estiver impregnada de toda energia maior de Deus e dos Grandes Orixás Maiores. Mostrou então seu desenho para todos os alunos, que se encontravam atentos às explicações e curiosos com o que era por Marabô desenhado e falado. Retornou a tábua em seu colo e nos espaços vazios que ficaram, entre o círculo e a estrela, desenhou tridentes, total de quatro, explicando que ali estava Exú, criação divina e Orixá Maior, irmão dos demais e criado para formar uma portentosa força de defesa de Deus para todos os orixás e para as futuras criações. Explicou-nos que para cada um desses Orixás Maiores existe um seu par vibratório de sustentação, inclusive na linha dos Guardiões. Também explicou que existem muitos outros orixás que vieram a surgir durante as infinitas criações do universo de Deus, discorrendo que a criação continuou de dentro para fora, reafirmando assim a infinitude do Pai Maior, muito pouco conhecido e/ou estudados pelos homens de hoje, pois sabemos que existem mais de 600 outros orixás, encarregados de auxiliar nas infinitas criações divinas.
Este momento foi de muita reflexão.
Tudo acontecia com explicações compostas de uma simplicidade impressionante e era por todos ouvidos com muita atenção.
Marabô então reafirmou que o Orixá é único e que estes não incorporam ou têm formas definidas como a dos homens.  As “entidades” que trabalham nos centros, igrejas, templos ou qualquer outro meio religiosos são ex-encarnados que se voltam a servir determinada linha por afinidade e amor ao Pai Maior. Assim sendo, afirmou com toda segurança que não existe incorporação de Orixá em lugar algum, é necessário acabar com este falso mito e começar a estudar e compreender o “todo” com mais propriedade. Admite-se que alguns professem conhecimentos diferentes, mas estes precisam aprender no seu tempo certo, pois existem homens vivendo o agora com visões do ontem, do hoje e do amanhã, criando assim uma parafernália de falsas idéias e ilusões. Sabemos que isso também faz parte da evolução, então, ajudamos no que podemos e muito ponderamos. Todavia, aqueles que realmente buscam a verdade, falamos com alegria e emoção e incentivamos cada vez mais o progresso.
É preciso refletir muito sobre o que estava sendo dito, pois muitos dogmas acabam sendo derrubados e abrem-se novos campos de pesquisa e muito estudo.
Nosso querido amigo Marabô resolveu então falar de suas peregrinações e discorreu o seguinte:
Não consigo ainda precisar o início de minha vida, pois assim como muitos de vocês, passei por fases evolutivas onde a consciência ainda era nebulosa, mas posso lhes dizer que não haviam continentes divididos, tudo era quase que um único e imenso universo de terra ou água neste planeta e raças se dividiam, o que somente aconteceu depois de muitos milhares de anos. Os homens que começavam a se conhecerem tinham uma só cor e muito pouco ou quase nada se comunicavam. Somente quando mudanças bruscas aconteceram, havendo diversas fusões de terras, continentes se separaram é que mudanças profundas começaram a surgir, onde novas adaptações ocorreram, os homens iniciaram seu processo de conscientização coletiva, troca de informações e ações diferenciadas para a sobrevivência. Em virtude das diferenças de temperatura, de formações vegetativas e todo um complexo sistema é que mudanças nas colorações de peles, olhos, alturas dos homens se fizeram presentes nos continentes. Eram pretos, brancos, amarelos, vermelhos vivendo em um mesmo planeta e implantando diferentes culturas. Isso eu me lembro e posso falar com propriedade, pois certamente a ciência encontrará todas as respostas.
Nessa época éramos todos voltados à conquista e descoberta. Quando sistemas diferentes se defrontavam, uns enfrentavam os outros e muita coisa “errada” eu também fiz.
Mas para tentar me conhecer, vamos passar um pouco mais adiante, quando o enviado direto de Deus, representante de Oxalá se fez presente neste planeta terra, “eu era da guarda Romana e não somente vi nosso senhor Jesus Cristo como também nada fiz por ajudá-lo.
Neste momento era nítidos a voz embaraçada e um sentimento de quase choro por eclodir de nosso narrador: Não quero chorar, mas tenho ciência de que naquela época, cego pelo desejo das paixões e conquistas, sequer ajudei o nazareno a carregar sua cruz, presenciei as chibatadas que desferiram contra ele e ainda por cima dei à época muita risada do que acontecia. Acabei envelhecendo neste reino de desordens e certo dia um velho senhor, hoje trabalhando como Negro Velho me chamou atenção sobre mudanças que viriam acontecer comigo e que deveria me preparar. Acabei falecendo pouco depois do encontro com este sábio senhor e quando me deparei do outro “lado” não senti nenhuma dor, me encontrei sozinho, perdido, perambulando com meus pensamentos. Vez ou outra encontrava uma alma em sentido contrário ao meu caminhar com a mesma fisionomia e completamente perdido também. Não sei quanto tempo assim eu caminhei. Não seis se foram anos ou décadas. Só sei que precisava mudar meu ser, encontrar mais sentido nas coisas e em tudo. Quando assim comecei a firmar meus passos, um senhor veio ao meu encontro, acho que era o mesmo que rapidamente havia conversado comigo, pois hoje o vejo como o meu grande amigo Pai Velho. Este me chamou para a grande mudança e tão logo assim falou me peguei reencarnado no continente Africano, em uma tribo de guerreiros, junto com um pajé que tudo me ensinava. Ele me mostrava um Deus simples, formas diferentes de reverenciá-lo, oferendas feitas para agradecer a comida, a caça, toda e qualquer conquista. Tratei nesta de aprender tudo e acabei, com a morte do velho Pajé, ficando em seu lugar. Mas confesso que ao assumir este lugar, uma onda de poder me subiu à cabeça e comecei a cometer erros, queria dominar outras tribos, fiz guerras, matei e fui morto.
Novamente sua voz embargava, seus olhos marejavam e alguns podiam presenciar em suas cabeças um filme desta vida.
Quando me deparei novamente no outro lado, sem dor, sem medo e sozinho, ouvi a velha voz sábia a sorrir e me cobrando dos erros que cometi. Certa vergonha inundava meu ser, sentimento de culpa em virtude de relembrar da minha proposta de mudanças feitas antes do encarne. Talvez, por serem verdadeiros meus sentimentos pós-morte, fui imediatamente reconduzido para o encarne, só que desta vez, para uma terra fria, gelada, lá pelos lados da Finlândia, em uma tribo habitante daquele lugar. Era um garoto muito alegre e extrovertido e incrivelmente habilidoso com as questões espirituais e de Deus. Chamavam-me de feiticeiro, bruxo, profeta, pastor. Como conhecia muito sobre a natureza e como trabalhar com ela, tudo o que acontecia de errado, lá ia eu concertar e até mesmo com manadas de animais tinha certo poder de acalmá-los, o que à época inventaram muitas histórias graças às minhas habilidades e meu grande tamanho físico. –“Muitas gargalhadas     Marabô deu nesse momento”.
Quando passei para o outro lado, fui convidado por seres de muita luz e sabedoria para trabalhar com o Grande e Único Orixá Exú e acabei conhecendo o Exú Maioral. Senti-me tranqüilo e apto para realizar os serviços necessários, conheci a verdadeira irmandade existente entre todos os Orixás e seus seguidores e firmei-me como um. Amo muito este lado, tenho muitos amigos e seguidores e formo infinitas alianças para lutar pelo bem maior do Pai Maior. Não é uma vida fácil, mas onde posso ajudar, vou com meu exército ao socorro e estou sempre aprendendo. Muitos anos se passaram e tive que voltar a reencarnar lá pelos anos de 1.700 DC. Vou dizer que reencarnei a convite, neste abençoado solo brasileiro, em tribo indígena do alto Xingu, onde fui grande sacerdote e amante destas benditas terras, não para corrigir falhas, mas porque, quando trabalhamos muitos nas baixas esferas, nosso corpo espiritual sofre muito e devemos nos recompor. A reencarnação é salutar e nos rejuvenesce muito, pois energia vital também é elixir para uma alma de trabalho incansável. Saibam que muitos exus que hoje se encontram trabalhando nos terreiros e searas do pai, necessitam reencarnar. O problema é que muitos acham que vão perder sua sabedoria, suas descobertas e avanços, o que é mentira pura, pois ninguém perde o que de melhor conquista e isso eu posso falar sem medo, pois quando voltei para a espiritualidade, não só retomei todo meu trabalho e conhecimento, como me renovei e me tornei muito mais forte e pronto para trabalhar por mais uns cinco mil anos, sem medo de errar, ajudando meus outros irmãos em suas andanças e tentando sempre a renovar espíritos decaídos. Muitas lutas contra o mal são travadas e aqueles que não conseguem se reajustar, serão transferidos para outros mundos, onde deverão recomeçar seu ciclos como homens das cavernas.
Saibam que este sou eu, assim como Exú Sete Encruzilhada, Tranca Rua das Almas. Tiriri, Veludo, Meia Noite e tantos outros são o que são e muitos usam nomes em concordância com a forma que trabalham. Exú não tem medo e tudo o que falei, é minha história, ou um pouco dela. Muitos centros nem deveriam levantar a bandeira dos exus, pois Zélio de Morais, a cem anos atrás dizia,pela sua forma de entendimento, que era perigoso. Ele errou um pouco porque não soube explicar o porquê. A verdade é que alguns trabalham dizendo que a linha é dos exus e na verdade estão trabalhando com os Kiumbas, verdadeiros marginais, falsificadores e monstros do espaço que imitam trejeitos dos Guardiões para ludibriarem os praticantes e toda a sua assistência ao conseguirem operar falsos milagres.
O verdadeiro Exú (Guardião) de Umbanda não pede nada em troca, faz tudo por amor ao Pai Maior. Se usar bebida e fumo, é para combater o mal. Também é um grande Orixá que zela pela natureza e quando raramente necessita de sangue para algum trabalho mais pesado, não mata nenhum animal. Fura o dedo do aparelho com uma agulha esterilizada e retira gotas de sangue. Mas vejam que este será um dos últimos recursos, pois a natureza quase tudo provê. Por isso, falo alto e em bom tom que não concordo com o que muitos fazem em outros locais, apenas suporto o que muito ainda vivencio, pois sei que muitos vão aprender pela dor de suas consciências.
Nosso amigo respondeu várias questões levantadas pelos presentes com muita sabedoria e ciente de sua investidura, teve a presença de seu amigo Tranca Rua a cuidar para que durante o diálogo nada viesse a interferir e ao final da palestra fez a confraternização com todos os seus grandes amigos Exus.
Obrigado Meu amigo e grande instrutor Marabô!

CLAUDAIR DE OLIVEIRA – Claudair de Oxóssi